Prof. Dr. Miguel Barbosa do Rosário
“O português primitivo:
Foi durante o domínio árabe que se acentuaram as características distintivas dos romances peninsulares.
Na região que compreendia a Galiza e a faixa lusitana entre o Douro e o Minho constituiu-se uma unidade lingüística particular que conservaria relativa homogeneidade até meados do século XIV - o galego-português.
O galego-português, provavelmente, teria contornos definidos desde o século VI, mas é só a partir do século IX que podemos atestar a sua existência através de palavras que se colhem em textos de latim bárbaro [Chama-se latim bárbaro a língua dos documentos forenses da Idade Média, em que, no texto latino, se inserem vocábulos do romance regional].
Datam do século XIII os primeiros documentos que chegaram até nós integralmente redigidos em galego-português. Inicia-se então a fase propriamente histórica de nossa língua, que, como todo idioma dotado de vitalidade, não se tem mantido uniforme nem no tempo, nem no espaço.
Baseando-nos em parte numa conhecida periodização proposta pelo sábio lingüista José Leite de Vasconcelos, distinguiremos as seguintes etapas na evolução do latim ao português atual:
latim lusitânico, língua falada na Lusitânia, desde a implantação do latim até o século V;
romance lusitânico, língua falada na Lusitânia, do século VI ao século IX, da qual, como da fase anterior, não temos nenhum documento escrito;
português proto-histórico, língua falada na Lusitânia, do século IX até fins do século XII, e da qual podemos vislumbrar algumas características nas palavras intercaladas em textos do latim bárbaro;
português arcaico, que vai de princípios do século XIII (1211?) até a primeira metade do século XVI, quando a língua começa a ser codificada gramaticalmente [A primeira gramática de nossa língua - A Grammatica da lingoagem portuguesa, de Fernão de Oliveira - foi publicada em 1536];
português moderno, que se estende da segunda metade do século XVI até os dias que correm.
Os períodos arcaico e moderno da língua portuguesa comportam subdivisões, como reconhecia o próprio Leite de Vasconcelos.
Parece-nos particularmente aconselhável distinguir duas épocas no período compreendido entre o século XIII e a primeira metade do século XVI; uma, a do português arcaico propriamente dito, que abarcaria a língua dos séculos XIII e XIV; outra, a do português médio, que iria do século XV a fins da primeira metade do século XVI e representaria a fase de transição entre a antiga e a moderna do idioma”.
In: CUNHA, Celso Ferreira da. Gramática da Língua Portuguesa. Rio: MEC. 1979.