Há em latim o verbo ĕdĕre, cujo significado é comer. Também com o sentido de comer há o verbo comĕdĕre, em que se pode detectar o prefixo com-. A forma simples ĕdĕre não passou para o português, cabendo ao verbo comĕdĕre fornecer ao português o verbo comer. Sua evolução é normal: comĕdĕre > comedēre > comeer > comer (mudança para a segunda conjugação, síncope do d intervocálico, apócope do e, crase das vogais). O que tem chamado a atenção dos linguistas, notadamente do Prof. Mattoso Câmara Jr., é a notável mudança do com-, prefixo em latim, para radical em português. É um exemplo clássico da necessidade de separar a sincronia da diacronia. Nem sempre a análise sincrônica corresponde à diacrônica.
Uma situação interessante também é a do verbo ducĕre em latim, cujos compostos se manifestam com prefixo: conducĕre (conduzir) deducĕre (deduzir), inducĕre (induzir), producĕre (produzir), reducĕre (reduzir), reconducĕre (reconduzir), seducĕre (seduzir), nos quais a forma ducĕre aparece plena em latim, mas não em português. Com efeito, -duzir só se manifesta em português quando se lhe acrescenta um prefixo. Em latim o com (con) é prefixo tanto em comĕdĕre quanto em conducĕre. Sendo -duzir o radical (forma presa), as formas que o precedem são prefixos.